Por Murilo Rodrigues Alves
BRASÍLIA – Em um ano marcado pela pressão do governo sobre os bancos e pelo estacionamento dos calotes em níveis elevados, mais uma vez, as instituições financeiras públicas lideraram a expansão do crédito no Brasil em 2012 – repetindo, assim, o mesmo desempenho verificado desde 2008. A carteira de empréstimos e financiamentos das instituições financeiras sob controle dos governos cresceu 27,2%, atingindo R$ 1,124 trilhão, segundo dados divulgados nesta sexta-feira pelo Banco Central (BC).
O saldo das operações dos bancos privados nacionais, que encerrou o ano passado em R$ 850,5 bilhões, subiu apenas 7%. Os bancos de controle estrangeiro foram um pouco melhor, com crescimento de 9,6% no ano, terminando com a carteira em R$ 385 bilhões. A carteira dos bancos privados atingiu R$ 1,235 trilhão, com crescimento no ano de apenas 7,8%.
No acumulado de 2012 e levando em conta o conjunto do sistema financeiro, o estoque de crédito aumentou 16,2% no ano, em linha com a projeção de 16% da autoridade monetária. Esse número representou perda de ritmo em relação aos dois anos anteriores, quando o crescimento foi de 19% (2011) e 20,6% (2010). Por outro lado, a relação crédito/PIB atingiu ao fim do ano passado 53,5%, ante 49% e 45,2% em 2011 e 2010, respectivamente.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, disse que o comportamento do crédito ao longo de 2012 foi influenciado pela queda dos juros, depois da cruzada do governo para o barateamento do crédito, e por uma maior “cautela” dos bancos privados em conceder crédito, frente ao patamar alto da inadimplência. Também surtiu efeito a liberação pela autoridade monetária de mais de R$ 100 bilhões de compulsório (recursos que os bancos são obrigados a deixar no BC).
A desaceleração ficou restrita, no entanto, ao setor privado. Os dados mostram que somente os bancos públicos tiveram desempenho melhor em 2012 na comparação com o ano anterior. O crescimento da carteira das instituições federais no ano passado superou os 23,75% de expansão registrada em 2011. No caso dos bancos privados, houve desaceleração em 2012, uma vez que no ano anterior eles tiveram crescimento de 15,6%.
Esse fato fez com que a parcela dos bancos públicos aumentasse ainda mais no ano passado, atingindo 47,6% do total das operações do sistema financeiro, ante 43,5% da posição em dezembro de 2011. Em contrapartida, as instituições privadas nacionais e estrangeiras tiveram suas participações reduzidas para 36,1% e 16,3%, respectivamente, ante 39,2% e 17,3% do fim de 2011.
O ano de maior incremento das operações do sistema financeiro público foi 2009, quando a crise internacional de liquidez afetou a oferta de crédito em vários países, levando o governo brasileiro a cobrar dos bancos públicos atuação mais ousada para combater os efeitos negativos do quadro mundial na economia doméstica. Nesse ano, enquanto a carteira dos bancos públicos subiu 32%, a dos bancos privados teve expansão de apenas 5,6%.
Para Maciel, os bancos privados, no ano passado, foram mais “cautelosos” nas concessões de crédito, em parte, devido à inadimplência, que fechou 2012 em 5,8%, bem perto do recorde de 5,9%. Já os bancos públicos, como têm participação maior em habitação e consignado, modalidades com inadimplência menor, puderam ser mais “ousados”.
Os bancos sob controle estatal trabalham muito com recursos de aplicação obrigatória, razão pela qual também têm inadimplência menor. O estoque das operações com recursos direcionados subiu 20,5%, acima da média, portanto, e terminou o ano passado em R$ 874 bilhões. No acumulado de 2012, pesaram para esse resultado as expansões de 37,6% na carteira de crédito habitacional, 23,6% na carteira de crédito rural e 12,4% nos financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Já o chamado crédito livre, que fechou dezembro em R$ 1,486 trilhão, aumentou 13,9% ao ano. Essa modalidade terminou o ano correspondendo a 63% da carteira total do sistema financeiro, um pouco menos do que detinha no fim de 2011 (64,3%).
A expansão foi mais fraca, principalmente, no crédito livre às pessoas físicas, cujo saldo subiu 11,2%, uma desaceleração em relação ao ano anterior, quando registrou crescimento de 16,4%. Houve um ligeiro aumento, porém, no estoque de crédito a pessoas físicas oriundo de recursos direcionados, que subiram 32,6%, depois de uma expansão de 32,1% em 2011. Esse resultado é influenciado pelo forte ritmo dos financiamentos habitacionais, que cresceram 38,2% em 2012. Na soma das duas origens, o montante devido pelas famílias ao sistema financeiro aumentou 17,8%, atingindo R$ 1,107 trilhão no fim do ano passado.
O total aplicado em operações com empresas, por sua vez, cresceu de forma mais moderada, 14,9%, fechando o ano em R$ 1,252 trilhão. A variação sobre o saldo do fim de 2011 foi de 12,4% no caso do crédito direcionado e de 12,4%, no caso do livre.
Fonte: Valor Econômico
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