BB revê estratégia de participação nos bancos Votorantim e Patagonia

19.07.2016

Em busca de saídas que lhe permitam reforçar seu capital nos próximos anos, o Banco do Brasil (BB) está no meio de uma revisão do seu portfólio de investimentos, incluindo as participações que detém no Banco Votorantim (BV) e no argentino Banco Patagônia. O processo pode vir a incluir a venda das fatias que o […]

Em busca de saídas que lhe permitam reforçar seu capital nos próximos anos, o Banco do Brasil (BB) está no meio de uma revisão do seu portfólio de investimentos, incluindo as participações que detém no Banco Votorantim (BV) e no argentino Banco Patagônia. O processo pode vir a incluir a venda das fatias que o banco público detém nessas instituições financeiras, afirma um executivo que participa do processo, mas ainda não há decisão final tomada.

Por ora, o BB decidiu que vai evitar, a todo custo, fazer novos aportes de seu capital próprio nesses bancos. Dois principais fatores motivaram a revisão. Primeiro, com exigências cada vez maiores de capital para os bancos entrando em vigor até 2019, o BB quer encontrar opções que lhe permitam atender tais requerimentos sem precisar buscar apoio do Tesouro.

Segundo, a deterioração da economia brasileira (e da vizinha Argentina) fez com que os planos de rentabilidade traçados pelo banco para essas duas operações ficassem cada vez mais distantes de se concretizar. Em janeiro de 2009, o BB comprou 50% do Banco Votorantim por R$ 4,2 bilhões, e divide o restante com a família Ermírio de Moraes. Entre 2011 e 2012, os sucessivos prejuízos acumulados pelo Votorantim, em relação à inadimplência crescente em créditos de veículos, obrigaram os sócios a injetar mais R$ 2 bilhões no banco. De lá para cá, a situação do BV melhorou e hoje o banco opera no azul. No primeiro trimestre deste ano, o banco registrou lucro de R$ 86 milhões. A carteira de crédito ampliada do banco encolheu 9,9% no acumulado 12 meses até março, para R$ 61,9 bilhões. A inadimplência recuou no período.

Há no BB, porém, a percepção de que os resultados do Votorantim estão abaixo do esperado. "Se o Brasil estivesse na toada anterior, de quando fizemos o investimento, o retorno seria completamente outro. Não vamos necessariamente vender, mas já fez mais sentido para o banco", diz um executivo do banco. A saída do BB do capital do Votorantim poderia levar a família Ermírio de Moraes a repensar seu investimento. Sem um sócio de grande porte, as condições de concorrência para um banco médio podem se tornar bem mais difíceis, comprometendo a rentabilidade da instituição.

No Banco Patagônia, a fatia do BB é de 58,96%. O banco brasileiro comprou 51% da instituição argentina em 2010, em meio a ambicioso projeto de internacionalização. Quinto maior banco da Argentina, o Patagônia teve lucro líquido de R$ 165 milhões nos três primeiros meses deste ano, queda de 20,1% ante o mesmo período do ano passado. A carteira de crédito da instituição encolheu 11,7% no acumulado 12 meses encerrados em março, para R$ 8,06 bilhões. "É um banco que dá resultado, mas é um projeto para médio a longo prazo, com a recuperação da economia argentina.

A margem de negócios financeiros no Brasil é infinitamente superior", afirma um executivo. "No curto prazo, faz muito mais sentido para o banco aplicar seu capital no Brasil." Mas a discussão vai além de Votorantim e Patagônia. Voltou à mesa a possibilidade de o banco vender participações também em suas áreas de cartão e gestão de recursos de terceiros. Nesses casos, a meta do BB é negociar com investidores a venda de pequenas fatias das empresas, entre 5% a 10% do capital. Isso porque a avaliação do banco é que, apesar do fluxo de recursos no curto prazo, a venda de fatias maiores acabam por diminuir o retorno potencial no longo prazo.

Na BB Seguridade, o banco vendeu 33% de participação. Também estão em análise a venda das ações que o banco tem da distribuidora e geradora de energia Neoenergia e da fabricante de silos Kepler Weber. Via BB Investimentos, o banco detém, respectivamente, fatia de 11,99% e 17,45% nessas companhias. O banco também não vê como possível fazer uma oferta pública de ações para aumento de capital. Isso porque a União está praticamente no limite do controle do banco e não pretende ter sua participação diluída. O Tesouro detém 50,7% do BB, segundo informações do último formulário de referência divulgado. Por meio do Fundo Fiscal de Investimento e Estabilização (FFIE), braço privado de investimentos do Fundo Soberano, a União também detém outros 3,7% de participação no banco.

O Ministério da Fazenda, porém, já sinalizou que, ao longo dos próximos anos, planeja vender os ativos do fundo. Em diferentes ocasiões, o vice-presidente de gestão financeira e relações com investidores do BB, José Maurício Coelho, afirmou que o BB estará com um índice de 9,5% de capital principal, o de melhor qualidade, até 2019. Em março, o banco tinha 8,2%, o menor índice entre os grandes bancos.

Segundo o Valor apurou, o cenário base do BB para os próximos anos é que não poderá contar com injeções do Tesouro para reforçar capital. Ao mesmo tempo, o banco não cogita segurar a concessão de crédito apenas por conta de seus índices de capitalização. Por isso, tem olhado com atenção a venda de ativos e outras medidas que possam ajudar sua capitalização. O banco já adotou medidas nessa linha neste ano, em especial a redução de 40% para 25% do percentual limite de distribuição de dividendos a seus acionistas. Como o banco retém mais resultado, sua capitalização melhora. Ainda assim, duas grandes agências de classificação de risco, a Standard & Poor's e a Fitch Ratings, cortaram algumas das notas atribuídas ao banco, citando preocupações com seu capital. Procurado, o BB afirmou que não comentaria o assunto. A Votorantim Finanças, acionista do BV, diz não comentar rumores.

Fonte: Valor Econômico – por Felipe Marques (Colaboraram Carolina Mandl e Eduardo Campos)

 

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