
Érica Franca e Carolina Matos
Folha de S.Paulo
O pagamento de juros consome quase dois meses da renda dos brasileiros endividados, segundo estimativa feita pela FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo) a pedido da Folha.
A despesa das pessoas físicas com juros de empréstimos somou R$ 233 bilhões em 2013. Considerando que os consumidores endividados tiveram renda anual, estimada pela FecomercioSP, de R$ 1,62 trilhão no período, os juros totais pagos morderam 14,4% dos ganhos em 12 meses.
O percentual equivale a 52,5 dias de rendimentos recebidos ao longo de um ano, que incluem salários e outras fontes de renda, como juros de aplicações financeiras e aluguel de imóveis.
Esse número é uma média. O resultado para cada consumidor pode variar conforme a renda mensal e a linha de crédito contratada, por exemplo.
Os cálculos da Fecomercio se basearam em dados levantados pela entidade mensalmente em todas as capitais com 18 mil consumidores, em estatísticas da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), do IBGE, e do Banco Central.
Na conta do montante total de juros pagos, foram consideradas todas as modalidades do chamado crédito livre, como cartão de crédito, empréstimo pessoal e cheque especial. Linhas direcionadas, como financiamentos imobiliários, não foram incluídas.
Na avaliação do consultor de finanças pessoais Mauro Calil, o número de dias de renda necessários para pagar juros no Brasil é expressivo e deveria levar os consumidores a pensar duas vezes antes de se endividar. "Esses cerca de 52 dias seriam o equivalente a um 14º e a um 15º salários se estivessem sendo poupados", diz.
As pesquisas da Fecomercio indicam que cerca de 60% das famílias brasileiras possuem algum tipo de dívida. De acordo com Altamiro Carvalho, assessor econômico da FecomercioSP, esse percentual não é elevado para padrões internacionais.
Mas a despesa com encargos financeiros, diz ele, é excessiva por causa dos juros altos praticados no Brasil. "O problema é que essa conta tão alta com juros alavanca a inadimplência", afirma Carvalho.
Estudo feito pela Fecomercio mostra que, nos últimos três anos, o nível de inadimplência (dívidas em atraso) acompanhou de perto os movimentos da taxa básica de juros, a Selic. "A série não é longa, mas fica claro que, em momentos de alta de juros, a inadimplência sobe", diz Carvalho.
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