Não foi dos melhores o contato dos banqueiros com a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, que representava a presidente da República, Dilma Rousseff, no jantar em que as instituições financeiras festejavam o seu Natal. A ministra-chefe da Casa Civil queixou-se de que os juros continuavam muito elevados e não caíram, apesar de todas as medidas tomadas pelo governo.
Não transcorreu uma semana daquela reunião e já se está anunciando a criação, no Banco Central (BC), de um grupo de trabalho de 50 pessoas em torno de Anthero de Moraes Meirelles, diretor de Fiscalização do BC, que terá por missão tornar mais rigorosa a "supervisão de conduta" das instituições financeiras.
Não podemos esquecer que as instituições financeiras, que sofreram um forte baque com o Plano Real e, agora, com a redução da taxa Selic, num curto período, viram seus lucros caindo de uma maneira que não podiam imaginar. No momento, estão na véspera de um novo choque, com a implantação das normas de Basileia III, que o Brasil tem respeitado mais do que muitos países e bancos no mundo. Foi isso, aliás, que manteve o nosso sistema financeiro relativamente imune à forte crise que abalou os de outros países.
Não se nega a necessidade de controle do sistema financeiro, especialmente quando se trata de operações de lavagem de dinheiro ou de derivativos. No entanto, as intenções do governo e do Banco Central parecem ir mais longe, procurando favorecer a concorrência e aumentar a burocracia que afetará as instituições. Como ocorre na administração pública, os bancos terão seus gastos elevados com operações de eficácia duvidosa, justamente no momento em que deveriam reduzir mão de obra para compensar a queda das margens de lucros que atravessam.
Essa introdução de novas normas na vida dos bancos vai aumentar as possibilidades de corrupção e interromper o que nos parece justo: a continuidade da queda do custo do dinheiro. Esta, aliás, deve ser realizada com grande cuidado, para não aumentar a insolvência dos mutuários, o que um dia pode obrigar as autoridades a entrar numa nova onda de elevação da taxa básica de juros – esse certamente não é o objetivo delas nem convém à economia brasileira.
O Brasil é tido como exemplar no que se refere à solidez do seu sistema financeiro, e os acidentes que tivemos não chegaram a afetar os grandes bancos que souberam perfeitamente se manter no quadro de prudência próprio da função.
Fonte: O Estado de S.Paulo
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