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Palestra da economista Esther Dweck abriu os trabalhados do segundo dia da 22ª Conferência Nacional dos Bancários
“Discutir a conjuntura econômica nesta situação é muito difícil, pois a atual conjuntura só agrava a situação. Infelizmente, a maneira como nós lidamos com a pandemias no Brasil é muito ruim. A gente poderia ter evitado parte dessas mortes se tivéssemos uma coordenação do governo federal”, afirmou a economista Esther Dweck, professora do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ainda emocionada com o vídeo em homenagem aos bancários mortos pela Covid-19, na abertura dos trabalhados do segundo dia da 22ª Conferência Nacional dos Bancários.
Presidente da Feeb SP/MS participa da mesa 1 da programação
Esther revelou que a expectativas de queda para a economia brasileira está entre 6 e 11%. “É um nível histórico, nunca teve uma queda tão grande da economia brasileira”. Um dos fatores para a queda tão brusca, segunda ela, é o risco de cerca de 15 milhões de pessoas que podem perder seus empregos. “A situação do emprego já vinha muito ruim no Brasil. Até 2014, tivemos uma queda do emprego informal e o crescimento do emprego formal. Depois, os dois caíram. Em 2017, quando iniciou uma tímida recuperação, apenas o emprego informal subiu. Durante a crise, quem ficou desempregado primeiro foram os trabalhadores informais, pois não há custos para quem contrata, demitir.”
Ao invés de ajudar, governo atrapalha
A projeção do mercado é que a gente voltaria ao PIB de 2014 somente em 2024. “Ou seja, seriam dez anos totalmente perdidos da economia brasileira. Mas, isso é uma expectativa otimista, infelizmente. Pressupõem-se que alguém vai fazer alguma coisa para a economia se recuperar. Porém, qual é a proposta do governo?”, alertou a economista.
Ela mesmo respondeu ao salientar que a agenda proposta pelo governo “é estruturante e de destruição de desenvolvimento inclusivo e soberano”. Medidas como a manutenção da Reforma da Previdência e do Teto de Gastos – com ajustes fiscais permanentes –, desvinculação das despesas, abertura comercial unilateral, privatização, fim dos bancos públicos e das regras de conteúdos locais, desmonte do setor de Petróleo e Gás e continuação da Reforma Trabalhista, fazem muito mal a economia brasileira.
Juros baixos às custas de um ajuste fiscal permanente
A professora do Instituto de Economia da UFRJ classificou como lentas as medidas tomadas pelo governo para recuperar a economia, e equivocada o fato de eleger a redução da taxa como o principal foco neste processo. “Essa não é uma medida eficiente para recuperação econômica. O que a gente está vendo é que a queda da Selic não está repercutindo na vida das pessoas, nas taxas de financiamento, apenas na recuperação da bolsa, antes mesmo da atividade econômica. O mais grave é que o governo está abaixando a taxa de juros, mas – por outro lado – está fazendo uma política fiscal que vai comprometer muito fortemente a capacidade de recuperação da economia brasileira”, explicou.
O resultado – lamenta Esther – é o agravamento da desigualdade social no Brasil. “A gente não podia continuar com um sistema econômico que agrave as grandes desigualdades no mundo. No Brasil isso ficou explícito, assim como nos Estados Unidos – países que são muito desiguais – que durante a pandemia, afetou mais os mais pobres. “
Brasil na contramão do Mundo
Para a economista, a crise econômica mundial de 2008 foi um ensaio para a crise mundial atual. Pois, depois dela, diversos países do mundo voltaram com as medidas de austeridade. “Isso deu muito errado. Foi isso que fez a recuperação mundial ser muito lenta, o fato do governo ter se ausentado.”
No ano passado, os Bancos Centrais de todo mundo já estavam pedindo uma política fiscal mais ativa – China e Alemanha anunciaram pacotes de expansão. “Não é à toa que todos esses países estão propondo um pacote de mudança, um Estado com atuação mais forte”, recordou. “No Brasil, estamos num círculo vicioso, pois o governo propõe cada vez mais cortar gastos que reduz a demanda privada, reduz o crescimento do PIB, reduz a arrecadação, piora a situação fiscal e o governo quer cortar mais, mais e mais”, completou
O que o Brasil precisa?
“A gente precisa de uma política econômica inclusiva e sustentável”, garantiu Esther, ao afirmar que a situação fiscal é consequência e não causa da crise. “A discussão de privatizar não vai resolver a situação fiscal e pode até agravar. O que a gente precisa é romper esse ajuste fiscal autodestrutivo, que é o ajuste fiscal. E a gente precisa de um projeto de desenvolvimento social para o Brasil, com crescimento, com transformação social, distribuição de renda e de riqueza, ampliação da oferta pública de serviços, como educação e saúde, uma readequação da estrutura produtiva, gerar empregos de qualidade, com o objetivo de garantir o acesso universal à saúde, educação, cultura e vários outros serviços básicos.”
Para isso, segundo a professora, é necessária uma alternativa de regime fiscal, com uma reforma tributária progressiva, repensar o pacto federativo brasileiro, revogar a Emenda Constitucional 95 e alterar as outras regras fiscais, como a “Regra de Ouro” e a “Regra de Primário”. “A gente tem que representar toda essa estrutura para permitir que a gente realmente cresça. A gente precisa que o Estado atue. Então, a gente precisa de um grande reajuste no regime fiscal brasileiro”, finalizou.
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