
Acordo visa criação de canal de atendimento às bancárias vítimas de violência
A Federação dos Empregados em Estabelecimentos Bancários dos Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul (FEEB SP MS) assinou nesta semana, junto ao Comando Nacional dos Bancários e a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), um aditivo à Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) da categoria que proporciona diretrizes para a criação de um programa de prevenção à prática de violência doméstica e familiar contra bancárias. A iniciativa, reivindicada em março de 2019 pela categoria, foi atendida após negociação entre o Comando dos Bancários e a Fenaban, em fevereiro de 2020. O objetivo da ação é garantir apoio às vítimas em situação de violência.
De acordo com o Sistema de Acompanhamento de Informações Sindicais do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em 2018 foram registrados 820 cláusulas que tratam o tema “violência contra a mulher”.
Presidentes(a) dos sindicatos filiados de Campinas, Ana Stela Alves de Lima, de São José do Rio Preto, Aparecido Donizete Roveroni e de Rio Claro, Reginaldo Lourenço Breda, também assinaram o termo aditivo.
Para a bancária Ana Stela, que representou a categoria entre as mulheres durante a programação, trata-se muito mais do que uma medida de prevenção contra a violência da mulher, mas contra a violência entre dos seres humanos. “Foi um debate riquíssimo. Para nós do movimento sindical, entregar um termo aditivo que vai além das relações do trabalho e que entra no âmbito familiar e dos problemas que a mulher pode trazer em decorrência disso para o mundo do trabalho e um avanço inenarrável”, comenta.
De acordo com Jeferson Boava, vice-presidente da FEEB SP MS, o momento é histórico e de extrema importância. “Um tema de extrema relevância, vemos o Brasil apresentar um índice altíssimo em relação à violência contra as mulheres e avançamos saindo de um acordo coletivo de trabalho e migrando para a para a esfera das relações sociais das bancárias e bancários, com o compromisso de proporcionarmos mecanismos e canais de atendimento e de denúncia. Sem dúvida um dia histórico para a categoria em relação ao tema”, comenta.
Sobre o tema
Pesquisas apontam que, no Brasil, mulheres vítimas de violência costumam se ausentar do trabalho, em média, por 18 dias .
“Diariamente vemos os noticiários sobre a violência praticada contra as mulheres em suas próprias casas. As bancárias não estão imunes a este tipo de violência. Precisam faltar ao trabalho, perdem produtividade e muitas acabam sendo demitidas. Isso é punir quem é vítima!”, disse a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira, que é uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários.
A não obrigatoriedade do cumprimento de metas no período de risco, o abono às faltas, a garantia do emprego, atendimento psicológico e social são algumas das políticas que os trabalhadores e trabalhadoras esperam que sejam criadas pelos programas de prevenção e apoio às bancárias vítimas de violência doméstica.
Dados do Ministério da Saúde mostram que, no Brasil, a cada quatro minutos, uma mulher é agredida por um homem e sobrevive. Mas, muitas delas morrem. Segundo o Atlas da Violência de 2019, produzido pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 13 mulheres são assassinadas por dia no Brasil.
Papel dos sindicatos
A presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Silva, destacou a necessidade e a importância de que os sindicatos também se integrem e contribuam para o sucesso do programa. “Do nosso lado também temos que buscar formação para mudarmos uma cultura que faz parte da sociedade na qual estamos incluídos”, disse. “Precisamos ter a capacidade de mostrar às bancárias que elas podem confiar neste programa e na garantia de que será mantido sigilo de todas as informações”, completou.
Evento
Antes da assinatura do acordo, ocorreu uma série de apresentações sobre temas correlatos. A apresentadora Rita von Hunty, do Canal Tempero Drag, falou sobre Masculinidade Tóxica. Adriana Carvalho, da ONU Mulheres, tratou do tema violência contra as mulheres. Mulheres dirigentes sindicais disseram “O que esperamos dos bancos” e o diretor de Políticas de Relações Trabalhistas e Sindicais da Fenaban falou sobre “Negociação social”.
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