Fraco desempenho da economia em 2012 levou equipe econômica a procurar o setor para pedir mais ousadia na oferta de crédito
MARTHA BECK
GABRIELA VALENTE
BRASÍLIA — O fraco desempenho da economia em 2012 levou o governo a procurar o setor bancário para pedir mais ousadia na oferta de crédito no país. Na avaliação da equipe econômica, embora tenham feito reduções em suas taxas de juros ao longo do ano passado, os bancos foram muito conservadores na concessão de financiamentos tanto para pessoas físicas quanto para empresas e acabaram contribuindo para o baixo crescimento.
Por isso, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem conversado frequentemente com presidentes de bancos privados como Itaú e Bradesco. No plano para turbinar a atividade, Caixa e Banco do Brasil também já se preparam para novas reduções de taxas e ampliação de linhas de crédito.
A equipe econômica considera ainda que todo o movimento de corte de juros não foi feito e que tanto empresários quanto consumidores podem se beneficiar de uma nova rodada de redução das taxas.
O ministro defende que a inadimplência — um dos principais argumentos das instituições privadas para manter a postura conservadora no crédito — se estabilizou no país. Segundo dados do Banco Central (BC), esse indicador encerrou novembro em 5,84%, sendo que ele estava em 5,93% em outubro e 5,88% em setembro. No caso das pessoas jurídicas, o percentual está em 4,08%; e das pessoas físicas, em 7,8%. Mantega também tem pedido que instituições públicas, como Caixa e Banco do Brasil, continuem na estratégia de baixar taxas e ampliar o crédito.
Dilma se reúne com banqueiros
A presidente Dilma Rousseff também entrou diretamente na conversa. Tanto que recentemente recebeu o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, no Palácio do Planalto para uma longa conversa. Dias após o encontro, o Bradesco anunciou uma ampliação em 20% do volume total de recursos de crédito pré-aprovado para pessoas físicas, que passou de R$ 68 bilhões para R$ 81 bilhões. Dilma tem recebido outros banqueiros ultimamente.
O ministro da Fazenda também tem dito às instituições financeiras que se eles tivessem sido mais generosas na oferta de crédito, especialmente para financiar os investimentos do setor privado em infraestrutura, o desempenho da economia poderia ter sido melhor no ano passado.
A previsão inicial do governo para 2012 era que o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) poderia crescer 4,5%, mas a taxa chegará a 1% na melhor das hipóteses. Dados do Banco Central mostram que o crédito para a indústria ficou praticamente estável em 2012, começando o ano em 9,9% do PIB e terminando pouco acima de 10%.
Mantega também tem dito aos executivos que os balanços dos bancos públicos vão mostrar bons resultados, mesmo com a redução feita no spread (diferença entre a taxa que o banco paga para captar o dinheiro e a que cobra para emprestá-lo ao consumidor), graças ao aumento de participação dessas instituições no mercado brasileiro.
Além de contar com o aumento do crédito, o governo já age em outras frentes para fazer a economia deslanchar. Nos planos está a ampliação da desoneração da folha de pagamentos para todos os setores da economia.
Para garantir que os gastos públicos em investimentos aumentem sem riscos para o equilíbrio fiscal, a equipe econômica já discute fazer alterações na meta de superávit primário, fixada em 3,1% do PIB. Entre as alternativas, está reduzir oficialmente a meta para um percentual próximo a 2% ou ampliar o volume de gastos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que o governo pode abater do superávit primário.
Em 2012, estatais cortaram taxas
Em abril do ano passado, os bancos públicos lançaram pacotes de cortes de juros aos consumidores . O movimento foi orquestrado pela presidente Dilma Rousseff. A Caixa Econômica Federal foi mais ousada nas quedas das taxas. Já o Banco do Brasil fez reduções um pouco menores, pois tem capital aberto na bolsa de valores e deve apresentar retorno financeiro não apenas ao governo, mas também aos acionistas.
Mas o papel dos bancos públicos na retomada do crescimento econômico não foi, no ano passado, o mesmo que em 2009, no auge da crise internacional: ofertar mais crédito. O alvo seria diminuir o custo dos financiamentos. Os bancos privados reagiram imediatamente para não perder mercado. Mas as instituições públicas aumentaram sua fatia do crédito no país.
De acordo com o governo, são justamente os bancos públicos que continuarão a puxar o crescimento do volume de crédito no Brasil ao longo deste ano.
Dados do Banco Central (BC) mostram que a oferta de crédito no país equivale a pouco mais de 50% do PIB (conjunto de bens e serviços produzidos no país), sendo que em outros países em desenvolvimento essa taxa fica acima de 70%.
Segundo o BC, a inadimplência corresponde a cerca de 29% do spread bancário. Entre os itens que compõem esse diferencial, o custo do calote só perde para o lucro, que representa 57%. Impostos diretos são responsáveis por 23% do spread.
Fonte: O Globo
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