Especialistas e sindicalistas destacam os impactos das metas excessivas e da falta de desconexão na saúde dos trabalhadores bancários, apontando a necessidade de reestruturação na gestão do trabalho
“Não há democracia no ambiente de trabalho porque não existe diálogo entre empregador e empregado.” A frase da médica e pesquisadora Maria Maeno, da Fundacentro, pode ser considerada o epicentro do debate sobre a saúde mental dos trabalhadores, com foco na categoria bancária, promovido em uma live realizada pelo Sindicato, em parceria com a Feeb SP/MS, nesta quinta-feira (08/08).
A participação da médica no evento online, pelo Zoom, para os bancários da base, elevou a discussão sobre a saúde do trabalhador bancário – a partir de números estarrecedores trazidos pelo movimento sindical durante a Campanha Nacional deste ano – à necessária reflexão sobre a subjetividade dos trabalhadores em um mundo que “normaliza” sistemas de gestão baseados em metas excessivas e remuneração por produtividade.
“Falamos em direito à desconexão, mas a realidade é que é impossível desconectar com as ferramentas que temos hoje. Mesmo nas férias, estamos ali, conectados com o trabalho, porque entendemos que é assim que funciona, e esse é um dos principais fatores de adoecimento físico e mental entre os bancários”, avaliou a médica.
“Porém, se tivessem a escolha, a maioria optaria pela desconexão, o que não ocorre porque existe uma desconexão clara entre o discurso do banco e as reais condições de trabalho dos funcionários. Para que haja uma mudança significativa, é necessário reestruturar a organização e a gestão do trabalho, pois ninguém aguenta trabalhar sem pausas constantes. Não estamos lidando com um problema de alta complexidade, mas sim com uma desigualdade política que prejudica os trabalhadores.”
Na live, batizada “Adoecimento Mental dos Bancários e o Negacionismo dos Bancos”, o diretor de saúde do Sindicato, Gustavo Frias, apresentou números que comprovam o adoecimento da categoria – entre eles o fato de que, somente em 2022, a categoria respondeu por 25% dos afastamentos acidentários relacionados à saúde mental do INSS, de acordo com levantamento do Dieese.
“Falar sobre a questão da saúde dos trabalhadores e qual o papel do Sindicato na proteção dos bancários é essencial, especialmente neste momento de renovação da CCT. Vejo a live como uma oportunidade de engrandecer o debate, a partir da participação da Dra. Maria Maeno, que sabe muito sobre trabalho e adoecimento.”
A reunião abordou questões de saúde e segurança no trabalho, com foco no setor bancário, destacando a importância do nexo técnico epidemiológico para estatísticas mais reais, tratando do uso da IA como uma “realidade, mas que ainda não substituiu a força do trabalho”, e do cuidado com a “burocratização da saúde mental dos trabalhadores”.
“Um alerta que eu gostaria de fazer é que tudo caminha para a burocratização da saúde. Como exemplo, temos a Lei Federal 14.831, sancionada em março, que coloca certificação para empresas promotoras de saúde mental. Primeiro, eu desafio qualquer pessoa a me apontar uma empresa que promova a saúde mental. Segundo, essa certificação poderá ser utilizada como material de propaganda. Terceiro, é que qualquer empresa grande, olhando para a lei, já cumpre os quesitos de programas de saúde mental. Mas por que os trabalhadores seguem doentes? Não se trata disso”, avaliou a médica.
Durante a live, também foram debatidos, a partir dos questionamentos dos participantes, temas ligados à necessidade de alertar a Previdência Social sobre os desafios do ambiente de trabalho, bem como os obstáculos para engajar os bancários em questões de saúde ocupacional.
A reunião concluiu refletindo sobre a naturalização das doenças mentais no ambiente de trabalho e a importância do cuidado individual com o meio ambiente como parte desse processo.
Acompanhe a Feeb SP/MS e fique atento às próximas lives e eventos como esse.
Sindicato em parceria com Feeb SP/MS
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