Rede de Comunicação dos Bancários
Os cerca de 700 delegados e observadores bancários começaram o primeiro dia da 12ª Conferência Nacional dos Bancários com debate a respeito dos números relativos a emprego na categoria e a discriminação no mercado de trabalho.
O economista Miguel Huertas Neto, da subseção do Dieese na Contraf-CUT, abriu os trabalhos apresentando dados de pesquisas realizadas pelo instituto contando as transformações desde 1995 até os dias atuais.
Ao longo desses 15 anos, muita coisa mudou. Em 1995, cerca de 45% dos trabalhadores de estabelecimentos bancários tinham 10 anos ou mais tempo de casa. Já em 2008, esse percentual caiu para 29%. A jornada de 30 horas está cedendo cada vez mais para a de 40: 65% dos trabalhadores cumpriam a menor jornada na década de 1990, contra 46% atualmente. A pesquisa também registrou o aumento no nível de escolaridade e de contratação de mulheres, que cresceu consideravelmente.
Em consulta mais recente, o Dieese constatou que o emprego bancário voltou a crescer em 2010, depois de estagnação percebida em 2009. No período de janeiro a março deste ano, foram registradas 11.053 mil admissões e 8.213 mil desligamentos, um saldo positivo de 2.840 novos postos de trabalho.
A maioria dos admitidos foram pessoas de até 30 anos, para a função de escriturário (5.946 vagas), com remuneração inicial entre 2 a 3 salários mínimos. Sobre os demitidos, a maior parte são homens, ocupando cargos gerenciais, com remuneração acima de 4 salários mínimos e nível superior completo. A maior parte das demissões (47,6%) foi sem justa causa, seguida de perto (43,88%) por demissões a pedido do trabalhador.
Embora o número de mulheres e homens admitidos esteja bem equilibrado (50,3% e 49,7%, respectivamente), a remuneração inicial é visivelmente inferior para as trabalhadoras: R$ 1.770,00 contra R$ 2.600 dos bancários. Ou seja, não houve redução nas desigualdades de gênero.
A segunda parte do painel sobre emprego foi apresentado pela professora da Unicamp Ângela Maria Carneiro Araújo, que apresentou mais dados sobre a discriminação de gênero e raça. "Hoje em dia há mais homens em cargos de chefia, enquanto as mulheres ficam em funções inferiores, sofrendo assédio moral e pressão", afirma. No que diz respeito à ascensão na carreira, as mulheres sofrem mais ainda do que negros, segundo a professora."A ascensão das mulheres na hierarquia dos bancos é limitada. Ela chega até a gerente das agências, mas depois são poucas as que passam disso", diz.
Em sua exposição, Ângela ressaltou a extrema importância da luta sindical contra as barreiras da discriminação de mulheres e negros, ainda hoje impregnadas nas empresas do sistema financeiro brasileiro.
"É inadmissível compactuarmos, em pleno século 21, com um sistema que discrimina. O avanço tem que passar pela ideia de que os sindicatos não toleram mais qualquer tipo de discriminação. Este é um forte desafio. É imprescindível rompermos o ‘telhado de vidro’ pelo respeito à diversidade, pelo fim das barreiras de entrada que alimentam a discriminação de mulheres, negros e negras e deficientes físicos", destaca Ângela.
Segundo a professora, o nível de desigualdade é brutal na categoria. A presença de mulheres é de 47%, mas apenas 5 a 10% ocupam cargos superiores.
A transformação do trabalho bancário se dá pela reestruturação do capitalismo. "Esta transformação foi muito rápida. Os bancos deixaram de ser movidos pelo trabalho bancário com a crescente informatização", ressalta Ângela. Outro impacto foi a mudança no trabalho da categoria, que passa a ser quantitativo. Os bancários são transformados em vendedores de produtos, com exigência de novas qualificações, cobranças por metas abusivas e com o incentivo a competição entre os trabalhadores.
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