Bancos preveem aumento de até 81% em supersalários de diretores. Levantamento do iG mostra que ajuste na remuneração fixa prevista para 2015 por 16 de 25 instituições listadas na BM&FBovespa é superior ao do IPCA (Vitor Sorano e Maíra Teixeira)
A maioria dos bancos listados na BM&FBovespa – detendores de mais de 60% dos ativos do sistema financeiro brasileiro – preevem aumentar a remuneração fixa de seus diretores executivos em 2015. E, em boa parte dos casos, o reajuste previsto para supersalários é superior à inflação.
O grupo, de 27 instituições, inclui gigantes como o Itaú, maior banco privado do País em volume de ativos, que destinará a cada executivo cerca de R$ 1,196 milhão em 2015 a título de remunerações fixas, ou R$ 984 mil líquidos de INSS patronal.
Esse último valor, que é suficiente para adquirir quase cinco BMW 420i Cabriolet Sport ano 2016, é apenas uma fatia do que esses funcionários devem receber, pois não inclui bônus e outros pagamentos variáveis. No ano passado, as remunerações baseadas em ações do banco somaram cerca de R$ 10,6 milhões para cada diretor – ou seis Ferraris California ano 2015. O valor inclui o INSS pago sobre esse montante.
O levantamento foi feito pelo iG a partir das informações que as instituições financeiras prestaram ao mercado, e compara as previsões de remuneração fixa – salário ou pró-labore, benefícios diretos e indiretos participação em comitês e outros valores fixos, em que algumas instituições incluem o INSS patronal, de 22,5% – para 2014 e 2015.
Dos 25 bancos que prestaram informações, 20 projetam uma remuneração fixa média por diretor maior que em 2014 e, em 16 desses, o aumento é superior à inflação de 9,65% estimada pelo mercado para este ano, segundo o último boletim Focus, do Banco Central.
O maior reajuste é o de uma instituição pública. O Banco de Brasília (BRB), controlado pelo governo do Distrito Federal, elevou em 81% as previsões, de R$ 577,8 mil para R$ 1,044 milhão – montantes que incluem o INSS patronal.
O BRB argumenta que o aumento decorre do corte no número de diretores, de 14 para 8, e que o valor total a ser dispendido com a remuneração fixa desses funcionários ficou inalterado, em R$ 8,4 milhões. Além disso, alega que no 1º semestre o valor efetivamente pago foi 6% menor que o de 2014.
"A tendência é de que o total das despesas com remuneração fixa dos diretores estatutários em 2015 seja, inclusive, inferior ao ano de 2014", informa o banco.
Entre os bancos privados, o maior percentual de reajuste é do BTG, que previu gastar R$ 5,33 milhões com a remuneração fixa de cada um de seus diretores em 2015, 41% acima dos R$ 3,78 milhões estimados para 2014 (as quantias também levam em conta o INSS patronal). Embora expressivos, o valor deste ano não chega nem à metade dos R$ 13 milhões que cada executivo levou para casa em 2013.
Procurada, a instituição – que, diferentemente do Itaú, não distribui remuneração variável aos seus diretores executivos – não quis se pronunciar.
Bancários param contra perda real
O Santander, que com 2,6 mil agências possui a 5ª maior rede de atendimento do País, prevê um aumento de 9,7% nas remunerações fixas, índice ligeiramente superior à inflação prevista para o ano. O banco estima gastar em R$ 2,575 milhões com o supersalário de cada um dos diretores estatuários em 2015, ante os R$ 2,347 milhões de 2014.
Além dos já citados, os reajustes reais nos supersalários foram previstos por Alfa Holding, Banco da Amazônia, Banese, Banrisul, Indusval, Mercantil de Investimentos, Mercantil do Brasil, Nordeste do Brasil, Banco Pan, Banco Pine, Consórcio Alfa e Paraná Banco, de acordo com o levantamento do iG.
Chama a atenção o fato de a relação de instituições financeiras com alta dos supersalários ter estatais – os Estados, como se sabe, têm passado por dificuldades para manter as contas em dia. No caso do Rio Grande do Sul, por exemplo, a situação dos cofres públicos está tão delicada que o governo precisou adiar o pagamento da folha de pagamento dos funcionários públicos. Mas o Banrisul (Banco do Estado do Rio Grande do Sul S.A) prevê um aumento de 14,6% nos salários dos executivos.
Somadas, essas 16 instituições que projetam reajustes acima da inflação detêm cerca de 35% das agências bancárias do País. Nesta terça-feira (6), parte delas amanhece fechada em 13 Estados em razão da paralisação dos bancários, a quem as instituições financeiras, por meio da Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), propuseram aumento de 5,5%. O índice significa perda real.
A Federação Brasileiro de Bancos (Febraban) argumenta que a política de remuneração dos diretores estatutários não segue a CLT e, sim, uma normativa do Banco Central. Além disso, alega que os diretores "respondem com próprio patrimônio em caso de problema com o banco. São ao mesmo tempo diretores e acionistas."
Bradesco prevê queda de 2%
O Banco do Brasil, líder em número de agências (5,6 mil), projeta um aumento de 1% na remuneração fixa média de seus 37 diretores, para pouco mais de R$ 1 milhão (sempre considerando o INSS). Além da instituição, Banestes, Daycoval e ABC preveem gastos maiores, mas com índices inferiores a 9,65%.
O Bradesco, que fica em segundo lugar em rede de atendimento, foi o único dos cinco maiores nesse quesito a propor a redução nominal na remuneração fixa média por diretor. A queda é de 2%, para cerca de R$ 1,25 milhão cada um. Também reduziram suas previsões as instituições financeiras Alfa Investimentos, Industrial Comercial, Sofisa e Itaúsa.
Em nota, o Bradesco informou que a remuneração dos administradores foi aprovado pela assembleia de acionistas.
O Banco do Nordeste, cuja remuneração fixa média por diretor subirá 26%, argumenta que a decisão sobre os pagamentos aos dirigentes levou em conta a inflação prevista para 2015 à época do fechamento do orçamento deste ano, em março, e que o aumento efetivamente previsto para os honorários da diretoria é de 4,89%.
O Indusval também alega que os valores efetivamente pagos aos diretores no primeiro semestre de 2015 são menores que os de 2014, e o Banestes, que todos os empregados receberam os 8,7% concedidos aos diretores.
O Banese, que segundo o levantamento da reportagem prevê aumentar em 16,3% a remuneração fixa de seus diretores estatutários em relação ao previsto para 2014, questiona a comparação, e argumenta que o aumento na remuneração total da diretoria em 2015 será de 8,5%.
O Consórcio Alfa considera que os valores pagos a título de INSS – incluídos pelo banco como parte da remuneração fixa ao prestar informações à CVM – não deveriam ser considerados como salário, honorário ou benefício. Além disso, alega que a comparação deve ser feita entre o valor efetivamente pago em 2014 com o previsto em 2015, o que reduziria o aumento de 14,3% para 12,25%.
Fonte: iG
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