Depois de ensaiarem um racha, os bancos voltam a se unir para pensar em um projeto de compartilhamento de suas máquinas de autoatendimento, os ATMs.
Na reta final para a criação de uma empresa para interligar seus caixas, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal desistiram de tocar o plano sem a inclusão das demais instituições financeiras. As negociações voltam agora a ser tocadas por todos os bancos de forma conjunta, em torno da TecBan, empresa dona da rede de caixas Banco24Horas. As 13,7 mil máquinas da TecBan interligam mais de 20 instituições.
Agora, os bancos se debruçam na tentativa de resolver um antigo problema: como equilibrar a participação acionária de cada instituição financeira de acordo com o fluxo de negócios que geram para os ATMs.
Esse é um pleito, por exemplo, que Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, que têm 5,95% e 13,53% respectivamente, fazem. Ambos os bancos argumentam que essas fatias não correspondem ao número de transações que levam para os caixas. Hoje, porém, o maior acionista da TecBan é o Itaú Unibanco, com 24,81%. Logo depois dele vêm Santander, com 20,82%, e Bradesco, com 16,31%.
Os bancos admitem que encontrar uma solução para isso não é simples. Mas a discussão vai além. A adoção de diferentes modelos de leitura biométrica dos clientes também cria barreiras. Qual modelo adotar? Correntistas do Bradesco usam a palma da mão, enquanto os do Itaú, o dedo. Usar os dois?
Não é de hoje que os bancos pensam em compartilhar suas máquinas de saques, extratos e consultas de saldo. O projeto de uso comum dos caixas tem nada menos do que dez anos. Começou em 2003, quando Marcio Cypriano chegou à presidência da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
Nenhum país na América Latina tem tantos caixas eletrônicos por pessoa quanto o Brasil. São 121 caixas a cada cem mil habitantes. Na região, quem mais chega próximo do Brasil é o Chile, com 62 caixas, segundo dados de relatório do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional divulgado semana passada. Entre os países analisados na pesquisa, apenas Estados Unidos (174), Canadá (220) e Coreia do Sul (250) superam a métrica brasileira.
Motivo de comemoração? Nem tanto. Por trás daquilo que o levantamento chama de uma "incomum" rede de caixas eletrônicos esconde-se uma ineficiência do sistema financeiro do Brasil. Aqui, a grande maioria dos caixas eletrônicos não é compartilhada entre as instituições financeiras. Para os bancos, isso se traduz em custos mais elevados de manutenção das máquinas.
Esse é um exemplo entre muitos que mostra o quanto os bancos brasileiros ainda precisam correr atrás da redução de despesas. Dados de 2012 do BIS (Banco de Compensações Internacionais) revelam que as instituições do Brasil são as mais "gastonas" entre 15 países analisados (Austrália, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Espanha, Suécia, Suíça, Reino Unido, Brasil, China, Índia e Rússia).
Em 2012, as despesas operacionais representaram 3,33% dos ativos totais dos bancos brasileiros, o maior percentual entre o grupo avaliado. Em segundo lugar aparecem os Estados Unidos, com 3,06%. Depois disso, vem a Rússia, com uma média de 2,78%. Bem mais espartanos, os bancos japoneses ficam com 0,75%.
São os gastos que acabam tirando parte do brilho de outra liderança que os bancos brasileiros ocupam. Eles também ficam no pódio em termos de margem financeira, que somou no ano passado 4,42% dos ativos totais. Segunda colocada, a Rússia aparece no ranking com 4,09%.
Não é à toa que os bancos brasileiros estão em meio a uma maratona para cortar gastos. De janeiro a junho, as quatro maiores instituições financeiras do país com ações listadas na bolsa de valores apresentaram expansão das despesas administrativas e de pessoal abaixo da inflação registrada no período. E a promessa é que essa toada se repetirá no ano que vem.
Corte de funcionários, aperfeiçoamento de tecnologias e até a economia de "post-it" estão na lista de ações que estão sendo tomadas pelos bancos brasileiros recentemente. Controlados pelo governo, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil estão comprando equipamentos como computadores e roteadores juntos em busca de preços melhores, por exemplo.
O compartilhamento dos caixas eletrônicos poderia resultar em mais economia para os bancos. Manutenção das máquinas, aluguel de pontos e abastecimento de numerário passariam a ser despesas divididas entre eles.
Também poderia se traduzir em mais negócios. "Um baixo nível de interoperabilidade implica um número médio de transações por terminal menor", afirma o relatório do Banco Mundial e do FMI. Sem o compartilhamento, mais caixas eletrônicos resultam em uma sobreposição das máquinas em um mesmo lugar. Cada caixa custa em torno de R$ 40 mil.
Fonte: Valor Econômico
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