Murilo Rodrigues Alves e Victor Martins
O Estado de São Paulo
BRASÍLIA – O Banco Central anunciou nesta quarta-feira, 2, a nona alta consecutiva da taxa básica de juros, que passou de 10,75% para 11% ao ano, maior nível desde novembro de 2011. Em comunicado, o Comitê de Política Monetária (Copom) deixou o caminho aberto para novas altas, a depender dos indicadores econômicos que serão divulgados até sua próxima reunião no fim de maio.
Com a decisão unânime, em linha com o esperado por analistas do mercado financeiro, o presidente do BC, Alexandre Tombini, mais subscreveu comunicados pela alta da taxa do que cortando a Selic. Apelidado no mercado financeiro de "Pombini", por uma suposta postura pró-juros baixos (do inglês dovish), desde que assumiu Tombini aumentou a Selic em 5,5 pontos porcentuais, em dois ciclos de altas – de janeiro a julho de 2011 e de abril do ano passado até ontem – ou 14 decisões do Copom. O ciclo de baixa, de agosto de 2011 a outubro de 2012, reduziu a taxa básica de juros em 5,25 pontos porcentuais em 10 reuniões seguidas. Depois dos cortes, Tombini liderou o colegiado para manter a taxa inalterada no recorde histórico de baixa, de 7,25% ao ano, em três reuniões – de novembro de 2012 a março de 2013.
Tudo indica que Dilma Rousseff entregará ao fim de sua gestão juros maiores do que aqueles que ela encontrou quando assumiu a Presidência, o que não ocorreu desde que foi implantado o regime de metas de inflação, em 1999. O aumento faz parte do trabalho iniciado há um ano pela autoridade monetária para controlar a inflação, que está acumulada em 5,68%, bem acima da meta estipulada pelo governo, de 4,5%. "Não é uma estratégia em longo prazo. A cada Copom a instituição reavalia o cenário", observou Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos.
Mais inflação. Mesmo assim, o próprio BC estima que a presidente Dilma entregará uma inflação maior no seu último ano de gestão do que a recebida de seu antecessor, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com as projeções da autoridade monetária, a inflação em 2014 será de 6,1%, superior que aos 5,91% em 2010.
Analistas ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, consideram que o Banco Central apresentou, no relatório divulgado no mês passado, um cenário de inflação condizente com a realidade e também uma preocupação maior com a evolução dos preços, que vêm ganhando força mais rápido do que o esperado pela autoridade monetária. No cenário de referência do BC, a probabilidade de o IPCA romper o teto da meta de 6,50% este ano subiu de 27%, em dezembro do ano passado, para 38% em março.
No Congresso, Tombini afirmou que os choques de preços de alimentos precisam ser acomodados pela política monetária, uma clara sinalização, na visão de economistas, de que a instituição vai reagir com juros enquanto a inflação de curto prazo permanecer pressionada.
Os analistas argumentam que o BC inseriu na comunicação uma preocupação com a inflação de curto prazo em função do choque de preços dos alimentos in-natura e de pressões vindas de algumas commodities (produtos básicos com cotação internacional). O controle de preços administrados também é uma preocupação extra para a autoridade monetária. Tony Volpon, diretor-executivo e chefe de pesquisas para mercados emergentes das Américas do Nomura Securities, em Nova York, argumenta que o controle pelo governo faz com que o país contrate "uma inflação pesada para 2015".
Veja a íntegra do comunicado:
"O Copom decidiu, por unanimidade, neste momento, elevar a taxa Selic em 0,25 p.p., para 11,00% a.a., sem viés.
O Comitê irá monitorar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Alexandre Antonio Tombini (Presidente), Aldo Luiz Mendes, Altamir Lopes, Anthero de Moraes Meirelles, Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo, Luiz Awazu Pereira da Silva, Luiz Edson Feltrim e Sidnei Corrêa Marques."
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