Enquanto demitem, bancos investem em tecnologia para reduzir agências

04.06.2014

A onda de demissões e redução de empregos que ocorre nos bancos privados e no Banco do Brasil, como revelam os últimos balanços publicados, é somente uma face perversa da reestruturação em andamento no sistema financeiro diante do pesado investimento em novas tecnologias. Duas notícias, publicadas nesta terça-feira (3), no jornal Valor Econômico, destacam que […]

A onda de demissões e redução de empregos que ocorre nos bancos privados e no Banco do Brasil, como revelam os últimos balanços publicados, é somente uma face perversa da reestruturação em andamento no sistema financeiro diante do pesado investimento em novas tecnologias.

Duas notícias, publicadas nesta terça-feira (3), no jornal Valor Econômico, destacam que depois de mais de uma década de tentativas frustradas de acabarem com as agências de rua, as experiências de digitalização do atendimento bancário voltam a surgir com força no país. Itaú, Bradesco e Banco do Brasil são citados como grandes investidores em novas tecnologias e serviços, principalmente via telefonia celular.

Segundo o jornal, as novas ferramentas tecnológicas e a diminuição do hábito dos correntistas de frequentarem as agências físicas contribuíram para que os bancos voltem a investir e a criar novas formas de atendimento virtual.

Dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), em 2013, dariam conta de que 47% das transações bancárias foram feitas na internet ou por meio de dispositivos móveis. Pelos caixas automáticos passaram 23% das operações. Isso teria modificado o papel das agências, que, no ano passado, foram responsáveis por apenas 10% dos negócios.

O principal interesse dos bancos seria a comodidade do cliente e a redução dos custos. No Bradesco, por exemplo, como cita a matéria, uma transação pelo celular, por exemplo, é 30 vezes mais barata do que uma presencial, em uma agência.

Segundo Miguel Pereira, secretário de Organização do Ramo Financeiro da Contraf-CUT, a intenção dos bancos é evitar ao máximo a ida dos clientes e usuários as agências, para que estas passem a ter o papel de apenas realizar negócios, por isso a abertura das chamadas agências de negócios.

"Mas como a própria matéria relata os brasileiros resistem culturalmente a essas mudanças. Em diversas pesquisas, em momentos diferentes, os clientes afirmam preferir o atendimento direto, humano, nas agências. Prova disso é que, apesar de todo desenvolvimento tecnológico, as agências vivem lotadas, com filas intermináveis. E o mau atendimento e a perda de tempo ainda são as marcas do moderno sistema de atendimento dos bancos", destaca o dirigente sindical.

Outro grande problema, segundo ele, diz respeito às condições de trabalho dos bancários, pois os bancos investem nesses novos canais, pensam em afastar os clientes das agências, mas isso acaba não ocorrendo. "Eles tornam a vida dos bancários um verdadeiro inferno, pois a dotação de pessoal das unidades é diminuída e as cobranças por metas aumentam", denuncia o diretor da Contraf-CUT.

Outra questão importante que não vem sendo abordada pela imprensa e muito menos pelos bancos, segundo Miguel, diz respeito à segurança, confiabilidade, eficiência e principalmente os custos dessas novas formas de atendimento. " A lei 12.865/2013 garante até bons princípios para a implantação dos chamados meios eletrônicos de pagamentos. Mas a pergunta que todos fazemos e não temos respostas é como estes princípios legais serão garantidos na prática. E, na dúvida, os clientes e usuários, com toda razão, ficam reticentes e continuam a preferir o atendimento das agências", afirma.

Além dos riscos dessas novas modalidades, que armazenam dados pela tecnologia de nuvens, ainda há a questão dos custos das operações. "Apesar de serem infinitamente mais baratas para os bancos, estão caríssimos para os usuários, como é o caso do valor cobrado pelo Bradesco para realização de um saque na modalidade mobile, que é de R$ 6,00, como o próprio jornal relata", alerta Miguel.

Mais serviços digitais

Segundo o jornal, no Itaú, dos 800 mil correntistas do Personnalité, que atende pessoas com renda mensal acima de R$ 10 mil, 30% dos 800 mil clientes aparecem no banco menos de uma vez por semestre. No Bradesco, dos 26 milhões de clientes, 8 milhões não entraram numa agência nos últimos três meses. São os avanços da tecnologia que já permitem que a maioria das transações cotidianas seja feita de qualquer lugar.

Depois de um ano de testes e R$ 100 milhões de investimentos, o Itaú lança um atendimento 100% on-line, o Personnalité Digital, que até o fim do ano deve atender 120 mil clientes de alta renda. Depois de uma detalhada análise da base de correntista, o banco ofereceu a eles a possibilidade de ter apenas uma agência digital, com horário ampliado, das 7 horas à meia-noite.

A partir do internet banking criado especialmente para o Personnalité Digital, o cliente pode enviar mensagens de texto, e-mail e até fazer videoconferência com seu gerente. Consultores para crédito imobiliário, câmbio e investimentos também estão à disposição.

A análise do perfil da clientela mostrou que até 240 mil correntistas podem ser transferidos para o atendimento digital até o fim do ano que vem. Para evitar as experiências malsucedidas que a indústria bancária teve no passado, o Itaú só vai oferecer a agência digital àqueles clientes que buscam esse tipo de serviço.

No Bradesco, o principal foco tem sido criar ferramentas que permitam ao cliente deixar de ir à agência. No próximo semestre, o banco lançará um serviço que permite o depósito de cheques por meio de um aplicativo que fotografa o documento, segundo o vice-presidente do banco, Mauricio Machado de Minas.

O Banco do Brasil tem buscado alternativas para o público que quer resolver suas pendências bancárias remotamente. O banco quer tornar a ida ao caixa eletrônico a mais rápida possível. A partir desta semana, pelo celular o cliente já poderá dizer o quanto pretende sacar. Ao chegar ao caixa eletrônico, basta mostrar ao leitor um "QR code" recebido – código de barras bidimensional -, sem necessidade de senha ou cartão.

Mobilização dos bancários

Para Miguel, todos esses investimentos dos bancos em novas tecnologias impactam profundamente no nível de emprego e nas condições de trabalho dos bancários, mas ocorrem sem qualquer discussão com o movimento sindical. "Vamos levar esse debate para a Campanha Nacional dos Bancários 2014, buscando mobilizar a categoria e negociar mecanismos de proteção ao emprego, realocação de trabalhadores afetados pelos serviços digitais e melhores condições de trabalho", defende o dirigente da Contraf-CUT.

"Vamos novamente e com muita preocupação levantar a necessidade urgente de debater o papel dos bancos e do crédito, visando realizar a Conferência Nacional sobre o Sistema Financeiro Nacional", ressalta Miguel.

O diretor da Contraf-CUT chama a atenção de que toda essa modificação acontece sem nenhum debate com a sociedade. Outra intenção do BC com a aprovação da Lei 12.865/2013 é a criação da moeda eletrônica, autorizando sua emissão inclusive por entes que não são bancos, vindo inclusive a substituir a circulação da moeda real pela moeda eletrônica. "Os riscos e as mudanças que acarretarão no sistema serão enormes, sendo que em nenhum espaço isso foi discutido com a sociedade", enfatiza Miguel.

"Nos estudos de economia, a moeda de um país sempre representou a sua riqueza e a sua soberania. Imaginem a possibilidade desse cenário vir a ser virtual? Quais serão os limites para emissão de moeda eletrônica? Qual o lastro?", indaga o dirigente sindical.

"São, portanto, muitos os desafios que ameaçam o presente e o futuro da categoria e, para enfrentá-los, precisamos mais uma vez de ousadia, unidade e mobilização", conclui Miguel.

Fonte: Contraf-CUT com Valor Econômico  

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