O Estado de S.Paulo
Bancos públicos têm pressa em fechar acordo, mas instituições privadas resistem
Marcelo Rehder
A greve nacional dos bancários, que completa hoje dez dias, provocou um "racha" na representação da Federação Nacional dos Bancos (Fenaban). De um lado, os bancos públicos, que são os mais afetados pela paralisação, têm pressa de chegar a um acordo que atenda os anseios dos trabalhadores, enquanto os bancos privados resistem.
Só que as negociações ocorrem em uma mesa única que define as mesmas cláusulas econômicas tanto para os bancos públicos quanto para os privados. O pior para os bancos públicos é que as greves no setor público costumam ser mais fortes e mais longas. Uma das explicações para o fenômeno é que, no setor privado, os dias parados são descontados dos salários e o medo do desemprego é mais presente. Já os servidores públicos têm estabilidade e os dias parados acabam sendo compensados.
Em São Paulo, onde existe a maior concentração de bancos privados do País, 54% das 667 agências bancárias fechadas ontem pela greve são de bancos públicos – basicamente Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Em outras regiões, a greve nos bancos públicos é ainda mais forte.
"É nos bancos públicos que se encontra a mola propulsora do movimento", comentou um executivo de um banco privado, que preferiu não ser identificado.
A força da greve mais concentrada em apenas dois bancos públicos causa estragos na imagem dessas instituições Em algumas regiões, principalmente no Norte e Nordeste, existem apenas agências da Caixa e do BB.
A preocupação é tamanha que representantes desses bancos aproveitaram reunião da diretoria da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) esta semana para se queixarem que a greve está muito forte e pediram uma solução rápida para o problema.
Paralisação. Os bancários decidiram pela greve em assembleias que rejeitaram a oferta da Fenaban, braço sindical da Febraban, de reajuste de 4,29%, que somente repõe a inflação acumulada em 12 meses até agosto. Eles querem reajuste salarial de 11%, o que representa 5% de aumento real, além da reposição da inflação.
Os trabalhadores pedem ainda prêmio de Participação nos Lucros ou Resultados (PLR) equivalente a três salários mais R$ 4 mil e o fim das metas abusivas e do assédio moral, entre outras reivindicações.
Uma mostra da disposição dos bancos públicos em ceder às pressões dos trabalhadores foi dada pelo Banco Nacional de Brasília (BRB). A diretoria da instituição fechou um acordo com a Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Empresas de Crédito (Contec) estabelecendo um índice de reajuste maior que o reivindicado pela categoria no resto do País. Os 3 mil funcionários do BRB terão 12% de reajuste e 35 dias de férias, entre outros benefícios. Ontem, a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) encaminhou novo ofício à Fenaban, propondo que marque data, local e horário para que os bancos possam apresentar proposta global capaz de acabar com a greve.